22 de jun. de 2011

ENTREVISTAS COM FARMACÊUTICOS

Olá Leitores do blog Farmácia em Foco!!! 
     Nesse período (2011.1) na Disciplina Introdução à Farmácia no curso de Farmácia da UFPI, foi proposto aos alunos que entrevistassem profissionais na área de Farmácia com o objetivo de investigar o porquê da escolha da profissão, suas experiências e perspectivas sobre a mesma.

O Blog Farmácia em Foco irá publicar diariamente as entrevistas com os profissionais dessa área realizada por cada grupo de alunos. 
FIQUEM LIGADOS!!! 

Entrevista 1
Entrevista com André Igor (egresso do curso de farmácia da UFPI)
por: Karla Genini e Miguel Castro

KM: Qual era sua opinião sobre o curso antes de ingressar na universidade e o que levou a escolhê-lo?
AI: Bem, no ensino médio, quando tive de escolher um curso pra fazer vestibular, eu sabia que queria ser um profissional da saúde, porque essa era uma vontade minha mesmo, além disso gostava muito de Química, e fiquei nessa dúvida até que um prof. meu me perguntou porque eu não fazia o curso de Farmácia, que era saúde e tinha bastante química. Segui o conselho dele e fui pesquisar qual a função do farmacêutico, e vi algumas áreas onde este poderia atuar e desde já me interessei, em especial, pela área de medicamentos. Quando tive a oportunidade de conversar com um farmacêutico e vi o quanto ele era apaixonado por sua profissão tive certeza de que esse era o curso que eu tinha de fazer!

KM: O curso de farmácia oferece um grande leque de opções para os seus graduandos. Por qual motivo você escolheu a área em que trabalha hoje?
AI: Quando eu entrei no curso de Farmácia eu só tinha uma vaga noção das áreas onde o farmacêutico poderia atuar, sendo que aquela época (ainda era o currículo antigo) o farmacêutico se formava e tinha de fazer uma habilitação pra exercer outras áreas. A UFPI só ofertava a habilitação em Análises Clínicas, que não me interessava muito porque, como eu disse anteriormente, eu identificava o farmacêutico como o profissional do medicamento e era esse farmacêutico que eu pretendia ser. 
  Quando migrei para o currículo novo que vi todas as outras áreas onde o farmacêutico poderia atuar confesso que fiquei na dúvida... 
  Cheguei a fazer estágio em Análises Clínicas e pensei em seguir carreira de microbiologista, mas quando fiz um mini-curso de "Boas Práticas de Fabricação na Indústria Farmacêutica" num encontro estudantil em 2006, me identifiquei com a área, e guiei minha graduação para segui-la. Gostei porque sempre me interessei por tecnologias de ponta e coisas assim, e vi que tinha aptidão pra essa área.
  Hoje, infelizmente, não é nessa área que atuo, talvez por falta de indústrias farmacêuticas em Teresina e por não ter conseguido oportunidade em alguma outra no Piauí, então escolhi trabalhar em áreas de certa forma relacionadas a ela, como a Farmácia de Manipulação ou Magistral, que se assemelham em relação à visão de Boas Práticas, e a Farmácia Hospitalar, que não tem muita relação com a Indústria, mas é onde trabalho com a paixão que me levou a escolher o curso de Farmácia: o medicamento.

KM: Qual a visão das pessoas sobre a sua área de atuação?
AI: Na Farmácia de Manipulação o trabalho do farmacêutico é bastante conhecido e reconhecido, já que é a área que originou nossa profissão. Aí as pessoas constantemente procuram o farmacêutico para tirar dúvidas sobre algum medicamento ou fórmula, e reconhecem nosso papel como provedor de conhecimento técnico no preparo e na formulação dos medicamentos.
  Já na Farmácia Hospitalar o farmacêutico ainda não é muito visto pelas pessoas, já que o serviço de farmácia clínica (que seria aquele que aproxima o farmacêutico dos pacientes) não está muito bem estabelecido nos hospitais. Porém o farmacêutico se relaciona ativamente com toda a equipe de saúde do hospital e também com a equipe administrativa, sendo seu trabalho bastante conhecido dentro do hospital.

KM: Como se encontra o mercado de trabalho para os formados em farmácia?
AI: Aqui em Teresina e no Piauí como um todo ainda são poucos farmacêuticos em relação à enorme demanda que o estado tem. E a demanda vem aumentando conforme as agências de fiscalização aumentam a cobrança sobre os estabelecimentos. O fato é que são muitas as propostas de trabalho e vez ou outra aparecem oportunidades melhores que acabam por fornecer, mesmo para o recém-formado, a oportunidade de escolher aonde é melhor trabalhar. Também tem surgido muitos concursos.

KM: Quais são suas expectativas para a área farmacêutica nesses anos que vêm?
AI: Os últimos farmacêuticos que tem se formado na universidade vivenciaram uma experiência diferente na formação. Apesar de ainda necessitar de muitas melhorias, especialmente na parte pedagógica, o curso de Farmácia está mais estruturado e sistematizado, o que permitiu que os farmacêuticos que se formaram nos últimos 3 ou 4 anos adquirissem uma visão diferente do que é ser farmacêutico. O próprio crescimento do Centro Acadêmico e sua participação na conscientização ética e política dos estudantes tem contribuído pra isso.
  Minha expectativa é que esses farmacêuticos que se formaram nas últimas turmas comecem a mudar a atividade farmacêutica no estado com seu trabalho diferenciado, mais técnico, ético,
responsável e também político, com uma visão mais social em seu exercício. Acredito que com essas mudanças no exercício da profissão isso acabe por gerar um efeito cascata que exija que os antigos farmacêuticos se atualizem e melhorem suas práticas, estando mais presentes nos estabelecimentos, fazendo um bom trabalho e conseqüentemente sendo mais reconhecidos pela sociedade, afinal "quem não é visto, não é lembrado".

KM: O que é ser farmacêutico?
AI: É uma pergunta complexa, mas me baseio em dois pensamentos para respondê-la. O primeiro é o de Mahatma Gandhi, que diz que "Acreditar em algo e não viver é desonesto" e o
segundo é o de Oswaldo Cruz, se não me engano, que diz que todo profissional de saúde é também um sanitarista. Eu considero que o farmacêutico é o profissional do medicamento,  com todo o respeito às outras áreas como alimentos e análises clínicas, não tem como se pensar no farmacêutico sem associá-lo aos medicamentos. Esse é o berço da profissão, e é a única área que é exclusiva do farmacêutico. Durante sua formação o farmacêutico adquire vários conhecimentos sobre os riscos da utilização de medicamentos, que vão à contramão do que está estabelecido como paradigma na nossa sociedade que é o medicamento como mercadoria.
  O farmacêutico sabe mais do que ninguém que o medicamento não é uma simples mercadoria e que as conseqüências de seu uso como tal são nefastas. Quando digo que me baseio no pensamento de que acreditar em algo e não viver é desonesto pra definir o que é ser farmacêutico, é no sentido de que, a partir do momento que o farmacêutico sabe que o medicamento não é mercadoria, não deve ser tratado como tal e acredita nisso, é desonesto agir de outra forma. Unindo isso ao pensamento de que o farmacêutico é também um sanitarista, ser farmacêutico significa ser um profissional que luta pela saúde pública e que está sempre atento a algo que possa feri-la (a saúde pública). É uma profissão especial, nesse
sentido, porque é o profissional que está em todos os níveis da atenção à saúde e principalmente no último e mais próximo que é no momento em que a pessoa recebe o medicamento e vai pra casa utilizá-lo. Como costumamos dizer, sem farmacêutico a saúde não
tem remédio.

O blog Farmácia em Foco agradece a participação e a gentileza de André Igor em atender nossos alunos.