5 de ago. de 2011

ENTREVISTAS COM FARMACÊUTICOS - 6

     Caros leitores desculpe-nos pela demora em atualizar nosso blog. Mas prometemos atualizações mais frequentes. Vamos a mais uma entrevista... 
     Hoje trata-se de uma pessoa e profissional com quem convivemos diariamente, além de ser fruto da UFPI, atualmente mestranda nesta IES.  

Entrevista com  Mayara Ladeira Coêlho (Farmacêutica pela UFPI, Gerente de Manipulação, Bacharel em Direito –UESPI e Mestranda em Ciências Farmacêuticas – UFPI.)
por: Audinei de Sousa e Lunara Caetano


AL: Como você decidiu que essa seria sua especialidade, sua profissão?
ML: Minha família possui uma drogaria em Presidente Dutra – MA, cresci dentro de uma farmácia. Em 2003, estudava o 3º ano do Ensino Médio, participei de uma Jornada de orientação vocacional, quando tive a honra de assistir uma palestra da Dra. Virginia Regina Fortes Castelo Branco (in memorian), que depois se dispôs a promover uma visita técnica em sua Farmácia de Manipulação. Neste dia decidi que seria farmacêutica.

AL: Se você fizesse uma radiografia do setor magistral, ela revelaria o que de mais importante?
ML: Em primeiro lugar, o acesso ao medicamento, com preços menos onerosos ao consumidor, que pode encontrar tratamento medicamentoso a custo racional. Em segundo lugar a individualização das fórmulas elaboradas, com apresentações, dosagens e associações especiais à necessidade do paciente obedecendo aos padrões de qualidade estipulados pelas regulamentações oficiais. É bom ressaltar que as apresentações adequadas eliminam o desperdício, pois o paciente comprar apenas o necessário para seu tratamento. Segundo a Anfarmag, o setor magistral no Brasil conta com mais de 7000 estabelecimentos hoje, o que corresponde a mais de 8% do mercado de medicamentos no Brasil, de onde percebe-se a importância no setor na economia, gerando emprego, renda, além de assistência farmacêutica à população, pois estima-se que em cada estabelecimento magistral, no mínimo, 3 farmacêuticos estejam envolvidos, seja na manipulação de fórmulas ou na prestação de outros serviços farmacêuticos. Então o setor que já se configura estabelecido e forte, caminha para o oferecimento de um serviço cada vez mais especializado e individualizado.

AL: Qual o papel do farmacêutico na promoção da conscientização dos problemas de saúde pública?
ML: Os últimos anos trouxeram grandes conquistas para a profissão farmacêutica. Em todo o mundo perceberam-se de forma frequente problemas relacionados a medicamentos e muitas vezes resultando com óbitos. Deste modo, houve preocupação em elaborar políticas de medicamentos com o foco no uso racional dos mesmos. Surgiu a partir daí a incrementação do termo medicamentos essenciais em 1977. Esse foi sem dúvida o primeiro passo para o reposicionamento do farmacêutico no que se refere ao seu papel diante do medicamento no contexto da saúde pública. No nosso país podemos destacar as ações dos conselhos de farmácia e as diligências da vigilância sanitária que passaram a exigir a obrigatoriedade da presença do farmacêutico nos estabelecimentos farmacêuticos a nível privado. Já no âmbito do SUS, podemos destacar que o farmacêutico vem obtendo cada vez mais destaque e o seu lugar também junto às equipes multidisciplinares da saúde. A profissão farmacêutica aceitou a Atenção Farmacêutica como sua missão de futuro. Este exercício profissional objetiva assegurar um tratamento farmacológico apropriado, efetivo, seguro, e cômodo aos pacientes satisfazendo suas necessidades em relação aos medicamentos, a promoção do uso racional de medicamentos, a redução dos custos com a saúde e a melhoria contínua da qualidade de vida da população.

AL: O que você pensa a respeito da ausência dos medicamentos manipulados e dos serviços farmacêuticos magistrais no SUS?
ML: É impossível pensar na inserção de produtos de manipulados no SUS, sem uma política de assistência farmacêutica adequada, haja vista a individualidade e personalização de cada fórmula, o que ainda é um panorama distante para nosso Estado.

AL: Se os medicamentos só chegam ao consumidor após rigorosas avaliações sobre sua eficácia e segurança, a que você atribui o fato de ainda hoje medicamentos terem a venda proibida depois de já estarem no mercado?
ML: O mundo farmacêutico está em constante processo de melhoria e aprimoramento. Sustenta-se com pesquisa, inovações e tecnologias diferenciadas. Então, apesar da complexidade da questão, é simples percebermos que novas tecnologias, mais modernas e sensíveis, além de novas técnicas diagnósticos, podem perceber novos problemas relacionados a medicamentos, bem como novas doenças que surgem com o transcorrer dos anos. Por isso é tão importante e essencial o trabalho da Farmacovigilância na identificação dos problemas a que estamos passíveis.

AL: Os farmacêuticos magistrais deram uma contribuição decisiva para o resgate da assistência farmacêutica, nas farmácias, com foco na atenção farmacêutica. Vale ressaltar que cada estabelecimento com manipulação mantém em atividade, em média, três farmacêuticos, simultaneamente. A senhora pode falar sobre esse aspecto: o da atenção farmacêutica prestada nas farmácias magistrais?
ML: Entendo que a farmácia magistral retomou a assistência farmacêutica no Brasil, pelo simples fato de que o farmacêutico magistral encontra-se realmente no estabelecimento, o paciente já sabe, portanto, que vai encontrá-lo. Além disso, o software que utilizamos nos permite cadastrar o paciente, acompanhar seu histórico de consumo, o que nos permite acompanhar de forma personalizada o paciente, tirando suas dúvidas e orientado-o quanto ao uso racional de medicamentos, posologias e etc.

AL: Segundo o site g1.globo.br, no Brasil existem mais de 104 mil farmacêuticos e mesmo assim o mercado continua em alta. O que explica isso, e o que você pensa a respeito?
ML: Considero que o mercado está em alta para mão de obra especializada, com o farmacêutico não é diferente, é necessário renovar-se, especializar-se. O estudo é a inesgotável fonte de mercado.

AL: Você considera a auto-medicação um ato já cultural no Brasil?
ML: Devido a falhas no assistencialismo à saúde a auto-medicação tornou-se um mal necessário para a população que não tinha acesso ao profissional prescritor. Com a implantação das equipes multidisciplinares de saúde da família, os profissionais se aproximaram dos pacientes de certa forma. Além do aumento das exigências legais quanto a dispensação de medicamentos mediante prescrição, como a Portaria 344/98 e a RDC 44/10. Esse quadro vem modificando o comportamento tanto dos profissionais quanto dos pacientes, o que contribui para a melhora desse panorama. 

AL: Quais as orientações o farmacêutico deve dá quando atende a um paciente, ou seja, quando faz a dispensação de medicamentos?
ML: Através da atenção farmacêutica, é possível realizar um trabalho de educação em  saúde, de orientação ao uso correto dos medicamentos, seus efeitos adversos, as suas possíveis interação medicamentosas e alimentares e demais informações necessárias, para que o tratamento atinja a sua eficácia.

AL: O que você pensa a respeito de nossa categoria ainda não ter um piso salarial fixo em nosso estado? 
ML: Penso que estamos em um estado de desorganização e desarticulação total da categoria, os profissionais pensam de forma individualizada e o Sindicato não atua de forma conjunta com o Conselho Regional, é uma vergonha termos um piso que corresponde ao salário mínimo.


O blog Farmácia em Foco agradece a participação e a gentileza da Farmacêutica Mayara Ladeira em atender nossos alunos